Bom dia.
Os três últimos dias foram de trabalho intenso, com a movimentação da plataformas, P-58 e chegada da P-63, por isso não temos informações diretamente da praia. Em compensação estamos na boca da Barra do Rio Grande e daqui vou tentar passar um pouquinho da rotina de quem trabalha na movimentação dos navios que chegam ao porto de Rio Grande. O dia começou com céu parcialmente nublado e deve continuar com nebulosidade variável, sem chuva. A temperatura é de 22 C e pode passar dos 30 C durante a tarde. O vento entra de Nordeste e tende a diminuir a velocidade para valores entre 13 e 10 nós no meio da manhã e deve aumentar novamente para valores médios de 15 nós. Não foi possível ver como estava a praia, mas aqui fora da barra, as marolas que passam estão pequenas, bem paralelas à costa e não devem dar condições para o surfe.
Hoje madrugamos mais uma vez e às 5:30 estávamos na Estação da Praticagem para realizarmos as medições de velocidade das correntes na região da desembocadura da Lagoa dos Patos e ao longo do canal de acesso ao porto. A velocidade das correntes, junto com o vento são os fatores determinantes para que os práticos consigam realizar as manobras e se esses estiverem acima dos limites de segurança, as operações são canceladas.
Como só participamos das grandes operações, geralmente é uma experiência legal pegar o Sol nascendo entre as pontas dos molhes, enquanto passamos as informações e aguardamos a chegada das "gigantes". Nas operações de entradas das plataformas, sempre há bastante gente envolvida, vários práticos, pessoal da medição, impressa, lanchas e rebocadores, todos se comunicando através dos ruídos dos rádios. Sempre há uma grande tensão para que tudo ocorra bem e o serviço seja concluído após um longo e cansativo processo, que pode levar muitas horas até que a plataforma esteja amarrada.
Lá vem ela a P-63, nova plataforma de extração de petróleo que será montada em Rio Grande, apontando na barra após a autorização do início das manobras que acontecem em condição de 10 nós de vento Nordeste e corrente vazando com 2 nós. Enquanto isso, somos agraciados com o nascer do Sol, um belo visual do Cassino por ângulos que só quem vê são os que saem para o mar, o bom dia das aves e dos golfinhos e o papo de quem está em serviço. O mar está tranquilo, o vento perdeu força, mas como sempre, na boca da barra é uma confusão de marolas, que jogam os barcos para todo os lados e incomodam até os mais experientes. Até ela chegar na barra, a operação é mais tranquila, mas quando começa a chegar perto da boca da lagoa a comunicação fica mais intensa e temos que correr sempre à sua frente para termos sempre medições atualizadas das condições de vazão.
Outro dia escutei uma analogia interessante feita por um marinheiro quando os rebocadores se aproximavam de uma plataforma. Disse ele: "Olha lá, não parecem leões atacando uma presa?" Sim! Aqueles pequenos barcos, bravos e fortes, seguindo as diretrizes dos práticos vão aos poucos domando os grandes navios, até que estes estejam presos e seguros nos portos.
Ainda lá fora, a lancha de apoio é chamada com urgência, barcos de pesca em rota de colisão, então o recado é passado: "Lancha, vai espalhar os pesqueiros". É assim, os serviços portuários estão sempre disputando espaço com o pessoal da pesca, que em muitos casos andam com sinalização deficiente ou não possuem nem rádios de comunicação, sendo um perigo para a navegação. Passados alguns minutos, nossa lancha é chamada, vamos buscar o pessoal da imprensa que começou a passar mal no mar balançado. Pessoal em terra firme, vamos correndo para o canal, pois a P-63 está entrando na barra e o trabalho se intensifica. Às 10:00 o vento se mantém calmo e a corrente no canal diminui para 0,6 m/s (aproximadamente 1,2 nós) com tendência a diminuir ainda mais, melhorando as condições de trabalho. À medida que a P-63 se aproxima do cais da QUIP, seu futuro destino, o serviço de praticagem começa a tratar dos assuntos relativos às amarrações.
Conforme o dia vai abrindo, o Sol que racha e o forte calor começam a maltratar a gente que tem que estar usando macacão e colete salva-vidas, mas as boas risadas com o pessoal da tripulação deixam o clima descontraído na lancha. Quando a P-63 faz o giro para aproximação ao cais, nos surpreendemos com o seu hélice girando fora d`água levantando um turbilhão, e logo começa o cabo de guerra dos rebocadores, que deixam o canal como um rio de corredeiras, até encostarem a plataforma e encerrando o trabalho de medição de correntes para a P-63. Mas o trabalho não termina aqui, já fomos informados que ainda hoje a P-58 também será movimentada, então recomeçamos daqui a pouco.
Uma pequena pausa para almoço e a equipe já é chamada novamente para passar os dados de corrente, é a vez da P-58, que foi deslocada ontem para que a P-63 pudesse entrar e agora retorna ao cais da QUIP. Nesse meio tempo a intensidade do vento aumentou para 18 nós e a lagoa vaza com 0,5 m/s, nada que coloque em risco a operação, que começou por volta das 14:30. Passado um tempo boiando, o calor começou a castigar e perto das 16:00 já estávamos em bicas e delirando por águas Perrier, ar condicionado, cervejas geladas e filme espelhado nos vidros da lancha, fazendo qualquer oportunidade de sombra de um costado de navio um grande alívio. Sem complicações, a P-58 encostou no cais às 16:30 e nós encerramos as medições. Depois de um dia de operação suada, é só correr para um bom banho e pegar um fim de tarde no Cassino.
Esses 3 últimos dias foram de plantão (24/dia) para monitoramento das operações e não teve publicação da praia, mas fica aí para o pessoal o relato de como é um dia de quem vive entre o Oceano Atlântico e os Molhes da Barra do Rio Grande.
Abraços à toda a Equipe LOCOSTE e aos práticos, mestres e marinheiros da Praticagem do Rio Grande que participaram dessa empreitada.
Até mais,
Augusto
10 comentários:
alguem foi ao navio?
Fala Preto,
muito legal a reportagem. Mostrou bem como é o dia a dia da galera envolvida com a navegação e apoio portuário. Nada fácil!!!! Abração e continue com o Blog assim que ta muito maneiro!!!
Valeu Pedro! É realmente uma função que cansa bastante. Abraços
cara, tenho um blog de economia, posso publicar duas das tuas fotos? dando o crédito pra ti e pro site, obviamente. abraços. Marcelo
Ok Marcelo, me manda os links das publicações. Abraço.
http://www.caminhosdazonasul.com/2013/01/p-63-chegando-rio-grande-hoje-pela-manha.html
vê se tu aprova. abraço!
Linda a reportagem, que fotos!!!
Legal Marcelo!
Gostei bastante do teu relato sobre a movimentação das plataformas. Imagino a canseira que deve ter sido!
Augusto, gostaria de poder ir mais vezes a Rio Grande, mas mesmo assim sigo seu blog por indicação de um amigo e, apesar de não lhe conhecer, admiro a maneira cordial e sensata como tens tratado e intermediado os comentários de seus leitores. Continue nos brindando com esses assuntos que vão muito além do mundo do surf!
mto legal Preto!
esse é um outro mundo!
q bom q vc o compartilha conosco, simples mortais.
abraços,
Dayse
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