Cassino AO VIVO!

                    

Vídeo ao vivo não funciona? Aperte play novamente ou atualize a página.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Posicione-se e desplastifique a sua vida

O advento do plástico na década de 1950 foi celebrado como um grande avanço. Desde então, nós plastificamos a nossa vida e a produção de plástico aumentou de 1,5 milhão de toneladas em meados dos anos 50 para 265 milhões em 2010 (De Oliveira, 2012). A Academia de Ciências dos EUA estima que o total anual de lixo plástico que jogamos nos oceanos é de aproximadamente 6,4 milhões de toneladas, cerca de 5% do total de plástico produzido anualmente. No Brasil, o consumo de plástico (produção + importação – exportação) é de 6 milhões de toneladas, dos quais menos de 20% é reciclado (De Oliveira, 2012).

O alarme ao lado da nossas camas é de plástico. Nossas escovas de dentes são de plástico. O xampu vem engarrafado em plástico. Computadores, televisões, celulares. Isso sem falar nas comidas e bebidas, quase todas embaladas em plástico. Quem frequentou as aulas de Poluição Marinha na FURG deve lembrar das dioxinas e furanos, subprodutos da combustão de plásticos. No entanto, os plásticos carregam vários outros poluentes orgânicos persistentes (PoPs): policlorobifenilos (PCBs), retardantes de chamas, bisfenol A, entre outros. Muitos destes poluentes são adicionados aos polímeros plásticos para conferir algumas propriedades especiais (resistência térmica ou maior rigidez, por exemplo). Além disso, metais pesados também são adicionados aos polímeros como parte dos corantes.

Infelizmente, nós também plastificamos a vida e a morte dos animais marinhos. No ambiente marinho, o plástico atrai poluentes oleosos presentes na água, o que aumenta ainda mais o conteúdo de PoPs nas partículas de plástico que bóiam pelo mundo. A carga de contaminantes em materiais plásticos é tão grande que cientistas publicaram uma nota na revista Nature propondo que resíduos plásticos sejam considerados substâncias nocivas, em pé de igualdade com os metais pesados (Rochman et al., 2013).

Baleias, tartarugas e aves marinhas são, talvez, as vítimas mais visíveis da morte por plástico. No entanto, muitos outros animais marinhos também são afetados, particularmente os que se alimentam de plâncton, desde copépodos até as grandes baleias. Todos ingerem partículas plásticas que podem causar a morte, mas não são apenas os impactos diretos e visíveis no animal que ingeriu o plástico que preocupam os cientistas. Contaminantes contidos no plásticos, como os PoPs, podem ser transferidos para o animal (por exemplo, zooplâncton, Cole et al., 2013) e iniciar um processo de biomagnificação ao longo da cadeia trófica. Dessa maneira, plásticos marinhos são uma ameaça à saúde da cadeia trófica, que inclui nós, humanos, consumidores de peixes e outros frutos do mar. Os PoPs prejudicam principalmente os sistemas reprodutivo, imunológico e endócrino, além de serem carcinogênicos.

Os oceanos são o último destino dos materiais plásticos e é onde esse lixo todo reside por décadas. A fração flutuante é distribuída pelo mundo inteiro pelas correntes e pelo vento. Durante a longa jornada, os plásticos flutuantes fragmentam-se e tornam-se cada vez menores. Assim, as amostras de plásticos coletadas em oceano aberto são dominados por partículas menores que 5 mm, conhecidas como microplásticos.

A descoberta da potencial acumulação de plásticos em determinadas regiões oceânicas através de simulações oceanográficas (Maximenko et al., 2011) levantou o interesse de pesquisadores em mapear a ocorrência de partículas plásticas nos oceanos com a utilização de redes de plâncton. Tais estudos confirmam uma alta densidade de materiais plásticos nos giros subtropicais, que ocupam as áreas centrais das bacias oceânicas ao norte e ao sul do equador e, também, perto de regiões estuarinas.

No Cassino, principalmente durante o verão, a produção de lixo plástico deixa um rastro de sacolas de supermercado, copos, canudinhos e garrafas de plásticos por todo lado. Além disso, uma viagem pela maior praia do mundo mostra que, mesmo longe das cidades, o lixo plástico faz parte da paisagem. Quantas vezes você já viu uma caixa plástica (monobloco) com a marca de uma indústria pesqueira na praia? Até aquelas boias alaranjadas grandes aparecem de vez em quando. Basta uma tempestade para que o nível do mar alcance os pés das dunas e carregue todo esse plástico para o mar, mais uma vez.

IMG_7438-2

Muito desse lixo não é só esquecido nas praias ou lançados diretamente ao mar, ele também vem da rua que acaba sendo transportado pelos ventos e pela chuva. Um estudo feito por Barros (2007), aponta que 85% das tartarugas-verdes encontradas mortas na Praia do Cassino, continham resíduos antropogênicos em seu conteúdo estomacal. Em um evento realizado pela Escola VivaVento no início de junho desse ano, com o objetivo de mostrar a população a quantidade de lixo que é jogado na Lagoa, 15 remadores de Stand Up Paddle (pranchas a remo) recolheram na Ilha da Pólvora e seus arredores 350 Kg de lixo num trecho de aproximadamente 50 metros da orla da Ilha em 30 minutos, ou seja, não juntaram nem 1% do lixo existente naquelas marismas.

image

Poluição plástica é uma das principais ameaças à sobrevivência das tartarugas-verdes (Chelonia mydas) da nossa região. A foto à direita mostra o conteúdo estomacal de uma tartaruga-verde juvenil (comprimento = 40 cm) encontrada na costa do Uruguai. Crédito: Karumbé

No vídeo abaixo, podemos ver os impactos da ação do homem sobre uma ilha desabitada, a não ser por animais, em pleno Oceano Pacífico, a 2.000 km de qualquer costa. São as sacolinhas plásticas, bitucas de cigarro e garrafas pet que você consome desnecessariamente ou não descarta em local apropriado. Esse exemplo mostra apenas as aves, mas o mesmo ocorre com peixes, tartarugas, golfinhos e outros animais.

 

imageAlgumas iniciativas de sucesso que incentivam a conscientização sobre os problemas gerados pelos plásticos nos oceanos já foram financiadas ao redor do mundo. Nesse mês de julho a Austrália lançou a campanha Plastic Free July 2013 ( http://www.plasticfreejuly.org ), que desafia as pessoas a não consumirem plástico descartável durante o mês de julho, basicamente itens que sejam utilizados uma única vez e depois descartados para o lixo, incluindo sacolas plásticas, copos descartáveis, garrafas, canudinhos e qualquer outro tipo de embalagens desnecessárias.

Nosso correspondente internacional Fernando "Magaiver" Hirata, aderiu ao desafio e está publicando em um blog ( http://prastiquifri.blogspot.com.br/ ) todo o seu processo de desplastificação durante esse mês, onde além de levantar bastante material interessante sobre o assunto, ele mostra as dificuldades e os benefícios da prática, vale a pena acompanhar! Seguindo essa corrente, o RGsurf tem uma proposta para você: elimine o plástico da sua vida! O desafio é passar pelo menos um mês comprometido em reduzir o seu consumo de plástico. Comece contando quantos itens plásticos descartáveis você usa em um dia e decida quantos você pode evitar sem comprometer a sua qualidade de vida. Outra dica é diminuir o uso de sacolas plásticas durante as compras e prestar atenção em como os produtos que você compra são embalados. Cerca de 40% da produção plástica global tem o objetivo de suprir a demanda do mercado por embalagens que tornam-se resíduos em menos de um ano (De Oliveira, 2012). Se você tem outras dicas para nos ajudar a reduzir o consumo de plástico, deixe nos comentários do blog.

No Cassino, nós temos uma cooperativa que recebe todo o lixo limpo e óleo de cozinha usado que serão, respectivamente, reciclados e utilizados por artesãs locais para fabricação de sabonete. Basta você limpar o material, acumular uma certa quantidade e deixar na sede da cooperativa ou até agendar para o caminhão ir buscar na sua rua. Clique aqui para saber aonde fica ( http://goo.gl/maps/VjGgu ). Aqui em casa eu já vou deixando tudo na pia e lavo junto com a louça, depois de seco coloco em uma lixeira grande comprada para esse fim e quando esta está cheia levo na cooperativa. O trabalho é ínfimo e você vai perceber logo no início a redução na quantidade de lixo que será enviada para os aterros sanitários. Se morar em casa com pátio, você pode reduzir ainda mais essa quantidade, separando os resíduos orgânicos e depositando em uma composteira, que vai virar adubo para suas plantas, mas essa é matéria para outra publicação.

Adaptado para o RGsurf por Fernando Hirata, Júlia Reisser e Alejandro Falabrino.

Fernando é oceanólogo formado na FURG e cursa doutorado no Georgia Institute of Technology (EUA) com tese sobre variabilidade climática sobre a América do Sul.

Júlia também é oceanóloga formada na FURG e atualmente cursa doutorado no Oceans Institute, University of Western Australia, com tese sobre a poluição marinha por plástico.

Alejandro é diretor da ONG Karumbé - facebook.com/karumbe.org

Barros, J.A., M.S. Copertino, D.S. Monteiro, & S.C. Estima, (2007). Análise da dieta de juvenis de tartaruga verde. (Chelonia mydas) no extremo sul do Brasil. Anais do VIII Congresso de Ecologia do Brasil. SEB.

Cole, M., P. Lindeque, E. Fileman, C. Halsband, R. Goodhead, J. Moger, & T.S. Galloway (2013). Microplastic ingestion by zooplankton. Environmental Science and Technology, doi:10.1021/es400663f. http://pubs.acs.org/doi/pdfplus/10.1021/es400663f

De Oliveira, M.C.B.R. (2012). Gestão de resíduos plásticos pós-consumo: perspectivas para a reciclagem no Brasil. Dissertação de mestrado, UFRJ/COPPE/Programa de planejamento energético, 91 pp. http://www.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/maria_deoliveira.pdf

Maximenko, N., J. Hafner, & P. Niiler (2012). Pathways of marine debris derived from trajectories of Lagrangian drifters. Marine Pollution Bulletin, 65, 51-62.

Rochman, C. M., M.A. Browne, B.S. Halpern, B.T. Hentschel, E. Hoh, H.K. Karapanagioti, L.M. Rios-Mendoza, H. Takada, W. Teh & R.C. Thompson (2013). Policy: Classify plastic waste as hazardous. Nature, 494, 169-171.

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo post!

Renatão disse...

Nosso correspondente internacional hahaha. Show de bola, Preto!

Anônimo disse...

Excelente matéria Preto!

Karl

Barrão disse...

Po preto. Muito boa a publicação. Muito surfe por ae, ou muita friaca?
hehehe

Abraços